Biologia em pauta

Entrevista: Bióloga da USP, Eunice Galati figura na lista de cientistas mais influentes do mundo, de acordo com Plos Biology

eunice

A Bióloga professora doutora Eunice Aparecida Bianchi Galati, docente do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Púbica (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), está entre os cientistas mais influentes do mundo, de acordo com o ranking da respeitada publicação Plos Biology. O ranking, divulgado em 16 de outubro, elenca os 100 mil cientistas mais influentes, de acordo com bancos de dados utilizados até 2019.

Registrada no Conselho Regional de Biologia da 1ª Região (CRBio-01), a doutora Eunice Galati possui graduação em Ciências pela USP (1976), graduação em Ciências Biológicas pela USP (1977), mestrado em Saúde Pública pela USP (1981) e doutorado em Saúde Pública também pela USP (1990).

Nessa entrevista exclusiva com o CRBio-01, falou sobre sua pesquisa e rotina de trabalho e o papel dos Biólogos no século 21.

CRBio-01: Qual é a sua principal linha de pesquisa?

Eunice Galati: A principal linha de pesquisa que atuo é taxonomia e ecologia de vetores. O grupo de insetos foco desta linha é Phlebotominae (Diptera, Psychodidae). Neste grupo encontram-se os vetores de várias espécies de Leishmania que são agentes das leishmanioses.

CRBio-01: A leishmaniose é considerada uma doença negligenciada. A senhora encontrou resistência para desenvolver sua pesquisa?

Eunice Galati: Até há cerca de uns cinco anos, não encontrava resistência para desenvolver a pesquisa. Ultimamente, a limitação de recursos, advindos de fontes de fomento para financiamento de projetos ou de bolsas de doutorado e pós-doutorado, tem, sim, criado dificuldades para desenvolver estudos em questões que gostaria de aprofundar sobre a taxonomia de alguns grupos de vetores Leishmania spp, bem como aspectos da capacidade vetorial de várias espécies.

CRBio-01: Como é a sua rotina de trabalho?

Eunice Galati: Como docente na Universidade de São Paulo, a minha rotina inicia por volta das 8h na Faculdade de Saúde Pública e, frequentemente, só retorno após as 20h. Durante esta jornada, ministro aulas na graduação e pós-graduação, oriento alunos de graduação e pós-graduação, participo de reuniões de colegiados (atualmente na comissão de coordenação do Curso de Bacharelado em Saúde Pública e do Mestrado Profissional em Entomologia em Saúde Pública), de bancas de exames de qualificação e defesas de mestrado e doutorado.

Frequentemente sou demandada para dar pareceres para colegiados da FSP, para vários periódicos e órgãos de fomento à pesquisa. No laboratório de Entomologia em Saúde Pública, desenvolvo estudos taxonômicos e investigação de infecção dos flebotomíneos por Leishmania. Pelo menos uma vez ao mês, vou a campo para coleta de insetos, geralmente à noite e fins de semana. Escrevo artigos e outras formas de divulgação da pesquisa. Em 2020, com a pandemia da Covid-19, não pude ir a campo, nem frequentar o laboratório, mas continuo a fazer todas as demais atividades, acrescidas dos afazeres domésticos.

CRBio-01: Que estudos contribuíram para a sua inclusão no ranking da PLOS Biology?

Eunice Galati: A inclusão do meu nome no ranking da PLOS Biology foi para o ano de 2019. Não sei exatamente o que mais pesou. Mas acredito que tenha sido um capítulo do livro Flebotomíneos do Brasil (2003), sobre a classificação filogenética de Phlebotominae nas Américas, que foi fruto da minha tese de doutorado. Esse capítulo foi atualizado e publicado em inglês em 2018. Além disso, possivelmente outros estudos sobre aspectos relacionados à ecologia de flebotomíneos também contribuíram.

CRBio-01: Qual é o papel do Biólogo no século 21?

Eunice Galati: Penso que é compreender melhor a biodiversidade e a relação entre as diferentes populações e entre estas e o meio ambiente. Estar atento e atuar para frear a destruição das reservas minerais, muitas delas com inclusão de sistemas espeleológicos, que são vitais para várias espécies.

Percebi melhor essa necessidade ao fazer um levantamento sobre as espécies de flebotomíneos que habitam ou frequentam cavernas, algumas delas relíquias do processo evolutivo, quando escrevi recentemente um capítulo de livro sobre fauna cavernícola. Avançar no conhecimento genômico para uso em benefício da saúde humana, animal e vegetal. Ser atuante em questões sobre a preservação ambiental.

Enfim, atuar na educação para uma vida em maior harmonia com a natureza.

(Publicado em 10 de dezembro de 2020)

Serviços Online

Transparência

Anuncie